sábado, 16 de fevereiro de 2013

Visão sobre um avivamento baseado no texto de Atos 8:26-40 (estudo realizado no pequeno grupo da Primeira Igreja Batista de Laranjeiras)



Ao falar de avivamento, as nossas mentes rapidamente são remetidas a uma ideia de moveres enormes ditos do Espírito Santo. No entanto, o verbo avivar, segundo o dicionário Priberam, significa: “Dar vivacidade a, tornar mais vivo, fazer reviver”.

Jonathan Edwards, um pastor congregacional americano, publicou em 1746 o Tratado sobre as Afeições Religiosas no qual afirma que “o cristianismo verdadeiro não se evidencia pela quantidade ou intensidade das emoções religiosas, mas por um coração transformado que ama a Deus e busca o seu prazer”. Assim sendo, como poderíamos chamar de morto ou “menos vivo” um coração transformado que ama a Deus e busca o seu prazer? Isto é o que de fato fazemos, ao conferir a uma determinada igreja, congregação ou denominação o rótulo de “avivada”, enquanto não o fazemos as demais. Com isso, podemos concluir que Avivamento em nada se refere às emoções exteriormente expressadas, mas ao milagre da vida concedido àquele que estava morto, espiritualmente falando.



Atos 8-26-40 conta a história de um avivalista e de um avivado: Filipe e o Eunuco Etíope. Em alguns meios seria estranho chamar assim a essa história. Alguns nos diriam: “Como você pode chamar de avivamento a um evento onde uma só pessoa foi convertida?”. Será então inadequado dizer que há avivamento mesmo que apenas uma pessoa seja chamada a Cristo?

Essa visão deturpada de avivamento surgiu nas grandes campanhas promovidas por Charles G. Finney, Dwight L. Moody e Reuben A. Torrey, para os quais "avivamento" seria um "borbulhar de entusiasmo na igreja". Lucas 15, em contraposição, relata uma parábola contada por Jesus sobre um homem que tinha cem ovelhas e ao perder uma, deixa as demais no aprisco para buscá-la. Também de uma mulher que ao perder uma moeda, varre toda a casa com cuidado para encontrá-la. E ambos, encontrando o que perderam, convidam seus vizinhos a se alegrarem. Jesus completa no versículo 10 do mesmo capítulo: “Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende”.

Deus prepara o pecador para o arrependimento

E levantou-se, e foi; e eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros, e tinha ido a Jerusalém para adoração (v.27) 
O verso 27 nos mostra que o Eunuco deixara sua nação rumo a Jerusalém para adorar no templo. O que levaria um alto oficial etíope a peregrinar a Jerusalém para adorar ao Deus dos Hebreus?

 A Etiópia ali referida não é o mesmo território que hoje conhecemos como Etiópia, mas um território mais ao norte, hoje pertencente parte ao Egito e ao Sudão. O Eunuco, ao que parece ainda não um prosélito, era um alto oficial de seu reino.

Embora não na mesma localidade da atual Etiópia, há de se considerar a enorme distância a qual o Eunuco submeteu-se para chegar a Jerusalém. O caminho continha desertos e também o constante risco de encontrar-se com uma comitiva de ladrões nômades. 1

Homens e mulheres, sem Cristo, estão espiritualmente mortos. E os mortos não atendem a chamados.

Quando meu avô morreu, estivemos em seu velório e ali o pudemos ver de forma tal como havia algum tempo que não o víamos. Devido à sua doença degenerativa, meu avô possuía feridas em seu corpo, mas estas, naquele dia, estavam maquiadas. Meu avô parecia bem, mas embora a aparência, estava morto. Se alguém o chamasse, ele nada poderia responder, os mortos não respondem a chamados.

O mesmo pode-se dizer dos que estão sem Cristo em nosso meio. Deus fala a eles todos os dias. Fala por meio de suas consciências, por meio da bíblia, por meio de nós. Mas eles podem responder? Eles respondem? Ao contrário, dia após dia eles vivem a mesma vida. Em épocas como as de hoje, carnaval, vemos as mesmas pessoas, cometendo os mesmos erros, ano após ano.

Aquele Eunuco, entretanto, embora espiritualmente morto, dispusera a si mesmo enfrentar as adversidades da viagem para adorar em Jerusalém.
Regressava e, assentado no seu carro, lia o profeta Isaías. (v.28) 
O verso 28 diz que ele estava de volta. Não há entre os versos 27 e 28 um relato da estadia daquele homem em Jerusalém, mas creio não ser abusivo concluir que nada fora mais decepcionante. Certamente o Etíope não pôde achegar-se ao templo, pois isto não era permitido a estrangeiros.

Outro homem causaria ali uma discussão diplomática: “Acaso você sabe quem sou eu? Como ousa impedir-me de entrar nesse seu templo?”. Aquele homem no entanto, permaneceu interessado no Deus dos Hebreus e então levou consigo um exemplar do livro do profeta Isaías.
E o lugar da Escritura que lia era este: Foi levado como a ovelha para o matadouro; e, como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia, Assim não abriu a sua boca. Na sua humilhação foi tirado o seu julgamento; E quem contará a sua geração? Porque a sua vida é tirada da terra. (v.32-33) 
Podemos observar em que ponto da leitura o Eunuco já estava. Nos versos 32 e 33 a leitura citada encontra-se em Isaías 53. Neste ponto do livro, ele já lera sobre as profecias contra diversos povos, inclusive contra o seu próprio. Agora estava diante da promessa do Messias.

Novamente somos levados a nos perguntar: o que leva um alto oficial Etíope a deixar a sua terra, peregrinar a um local onde não é bem recebido, levar consigo um exemplar de um livro que profetiza a destruição de seu povo e ainda assim deter-se nessa leitura? Só podemos concluir que Deus prepara o pecador para o arrependimento.

Diz uma história que certa vez uma missionária inglesa esteve em um escola no Congo falando sobre Cristo Jesus. A história comoveu o coração de um dos meninos ali presente que a compartilhou com entusiasmo em sua casa. Naquela casa moravam, além do menino e seus pais, outros irmãos. Todos ouviram com atenção à história. O tempo passou, entretanto, e aquela história foi esquecida pelo menino e seus familiares, exceto por um de seus irmãos. Ainda impelido pelas palavras de seu irmão, aquele menino buscara ao Senhor em uma tarde e a ele clamou: “Ó Deus que mandou Jesus, envie uma moça branca para pregar a mim também.” O que leva uma criança africana a mover seu coração ao Senhor, embora tenha ouvido precariamente sobre Cristo por meio de um relato de uma criança sobre a visita de uma missionária à sua escola? Deus prepara o pecador para o arrependimento.1

Deus envia servos para pregar 
E o anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai para o lado do sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, que está deserta. (v.26) 
Filipe estava em Jerusalém e foi mandado à Gaza. O caminho mais curto para Gaza, partindo de Jerusalém é de 66,5km. E ao ser mandado, ele se levantou e foi.

Quantas vezes o Senhor nos tem mandado percorrer distâncias muito menores e nós nos recusamos? Quantas desculpas nós não inventamos para escapar da missão que nos é conferida? Filipe, no entanto, não tentou argumentar com o senhor nem sobre a distância, nem sobre o o perigo, antes levantou-se para cumprir a ordem do mestre.
E disse o Espírito a Filipe: Chega-te, e ajunta-te a esse carro. E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês? (v.29-30) 
Por certo aquela carruagem não estava em alta velocidade. Fosse assim, Filipe, mesmo correndo, não a alcançaria. Aquele homem, ou seus servos, conduziam a carruagem a uma velocidade possível de se alcançar a pé. Além disso, aquele homem lia em vós alta ao texto de Isaías. Não fora assim, Filipe não poderia ouvir aquilo que se estava sendo lido.

Nessa inocente coordenação, podemos ver a mão do Senhor. Mais do que meras ocasiões, o Senhor criara ali uma excelente situação para a intervenção evangelística de Filipe.

O pecador que Deus prepara, encontrou-se propiciamente com o servo que ele enviou para pregar.

Deus não tem preparado pessoas para nos ouvir e situações para encontrarmo-nos com elas?

Helen Roseveare, uma missionária inglesa, estava em no Congo, em 1979, em meio a turbulentas crises naquele país. Os aeroportos estavam fechados e haviam com ela, amigos missionários que precisavam voltar para seus países de origem. Souberam que a fronteira com a Uganda estava aberta e então Helen os pôs em seu carro e dirigiu durante toda a tarde até a Uganda, onde eles puderam voltar a seus países. Helen decidiu que dirigiria toda a noite para chegar ainda naquela manhã no Congo. Aconteceu que, vindo a manhã, ela estava exausta. Então resolveu estacionar seu carro à beira da estrada e fazer um chá em uma pequena chaleira portátil que levava consigo. Foi neste momento que um africano saiu da estepe e lhe chamando disse: “Hei, moça, você é a moça branca que Deus enviou para me apresentar a Jesus?”, e ela era. Deus prepara o pecador para o arrependimento e também envia o servo para pregar.

E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês? E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse. (v.30-31) Talvez pudéssemos nos perguntar “o que pregar?”. Filipe não desvencilha o homem da palavra para a exposição de outros textos ou de filosofias de antemão preparadas para o convencimento emocional daquele homem. Antes ele introduz a si mesmo: “Compreendes o que lê”. E a partir daí passa a expor Jesus àquele homem. “Como poderei entender, se alguém não me explicar?”, respondeu-lhe o Eunuco.

Não espere entregar um folheto ou dar um breve conselho e encarar isto como uma semente lançada pronta a brotar. Lembremo-nos que os homens espiritualmente mortos estão incapacitados de responder. Eis que somos o meio escolhido por Deus para a vivificação dos mortos.

Então Filipe, abrindo a sua boca, e começando nesta Escritura, lhe anunciou a Jesus. (v.35)

 Aqui encontramos a resposta a pergunta que anteriormente fizemos. Devemos pregar a Jesus. E pregá-lo a partir da Bíblia.

Embora seja de vital importância o testemunho cristão, precisamos ter plena certeza de que este não é suficiente para a pregação do evangelho a um perdido. Mais ainda, precisamos entender que ninguém será salvo por ouvir sobre Cristo aquilo que deseja ouvir. Antes, precisamos nos dispor a pregar Jesus a partir das escrituras, como feito por Filipe, e então estejamos certos de que, aqueles que ele tem preparado para o arrependimento, invariavelmente responderão ao chamado da cruz.

Aplicação

E, indo eles caminhando, chegaram ao pé de alguma água, e disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que eu seja batizado? E disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. E mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e o batizou. (v.36-38)
Nesses versos o Eunuco expõe a transformação que ocorrera em si dizendo: “Creio que Jesus Cristo é o filho de Deus”, e o disse atendendo ao chamado de Filipe que lhe dissera: “É lícito se crês de todo o seu coração”. Eis aqui o avivamento que buscamos: o nascimento de um coração transformado que ama a Deus e busca o seu prazer. Para vermos semelhante avivamento em nosso meio, é preciso nos dispor à deixar o nosso ponto confortável e anteder ao chamado do Espírito à pregação.

É muito fácil fazer como Finney e Mood, ao dizer que o avivamento é uma experiência mistica, fruto de fervorosa intercessão, e jogar a responsabilidade ao Espírito Santo de fazer aquilo que Deus nos manda fazer. É simples também, transformar o anuncio das escrituras em um chamado emocional, movido a um ambiente cuidadosamente preparado. Ambas as as atitudes requerem de nós menos entrega e preparo do que cumprir de forma honesta ao chamado do Espírito.

Preparai-vos, pois o Senhor tem escolhido muitas pessoas e preparado-as para encontrar-se conosco.

Acréscimo

Ao fim do Estudo, pudemos contar com intervenção do irmão e querido amigo Gerson Barcelos que o completou ao compartilhar conosco sobre o avivamento ocorrido também com os apóstolos na feita do pentecostes (Atos 2), levando-os a deixar suas imediações e viajando, expuseram o evangelho a todo o mundo. Graças a este desprendimento, o evangelho atingiu a nós, um povo que não o merecia.

***
Daniel Pompermayer é um jovem de 19 anos, cristão batista, reformado, calvinista, monergista e acredita que Deus prepara os homens para receber o evangelho. É meu irmão caçula.

2 comentários:

Antognoni Misael disse...

Ainda contribuo dizendo: Não há avivamento sem Reforma (volta as escrituras), assim com se a reforma não vier suscedida de um avivamento, esta será incompleta.

Avivamento parte do entendimento de quem somos, dependemos, e pra que vivemos. Uma igreja sem "Noção" jamais será avivada.

Mikaella disse...

Ei, Misa. Eu também concordo com você. Mas uma coisa que me chama atenção desde sempre é o seguinte: uma pessoa salva em Cristo precisa ser avivada duas vezes? Será que o avivamento não surge no momento em que ela é restaurada por Jesus, ao se arrepender da vida pecaminosa e aceitar que Cristo morreu pelos seus pecados? Se ela precisa de um novo avivamento não foi realmente convencida que precisa renunciar sua natureza humana. Acho que existe uma confusão: as pessoas acreditam que igreja avivada é igreja animada, com pessoas fervendo de louvor. Mas lembro-me das cartas às igrejas de Apocalipse, onde em uma delas, Jesus alerta para que apesar de parecer uma igreja realmente quenta, é uma igreja fria e sem amor.

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