segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Deixem-me energicamente persuadir todos aqueles que carregam o nome de cristãos a se tornarem amantes de Deus. “Amai o SENHOR, vós todos os seus santos” (Sl 31.23). São poucos os que amam a Deus: muitos Lhe dão beijos hipócritas, mas poucos de fato O amam. Amar a Deus não é tão fácil quanto pensa a maioria. O sentimento do amor é natural, mas a graça do amor não o é. Os homens são, por natureza, odiadores de Deus (Rm 1.30). Os ímpios fogem de Deus; eles não se submetem às Suas ordenanças, tampouco se põem sob Seu alcance. Eles têm medo de Deus, mas não O amam. Toda a força que há nos homens ou nos anjos não é capaz de fazer o coração amar a Deus. Ordenanças não podem fazê-lo por si mesmas, tampouco a ameaça de condenação; é apenas a força todo-poderosa e invencível do Espírito Santo que pode infundir o amor dentro de uma alma. Sendo esse um trabalho tão difícil, somos chamados a empregar a mais fervorosa oração e a nos empenharmos em buscar essa bela graça do amor. A fim de excitar e inflamar os nossos desejos por ela, eu hei de prescrever vinte motivos para amar a Deus.


(1) Sem amor, toda a nossa religião é vã. Deus não atenta para o dever, mas para o amor ao dever. A questão não é o quanto nós fazemos, mas o quanto nós amamos. Se um servo não faz o seu trabalho voluntariamente, e cheio de amor, sua obra não é aceitável. Deveres executados sem amor são tão insuportáveis para Deus quanto são para nós. Assim, Davi aconselhou o seu filho Salomão a servir a Deus com uma alma voluntária (1Cr 28.9). Cumprir um dever sem amor não é um sacrifício, mas uma penitência.

(2) O amor é a mais nobre e excelente graça. É uma chama pura acendida dos céus; por meio dela nós nos refletimos a imagem de Deus, que é amor. Crer e obedecer não nos torna semelhantes a Deus, mas pelo amor nós crescemos em semelhança a Ele (1Jo 4.16). O amor é a graça que mais se deleita em Deus, e é a graça na qual Deus mais se deleita. Aquele discípulo que estava mais cheio de amor foi o que pôde inclinar-se em seu peito. O amor põe um frescor e um brilho em todas as graças: as graças parecem ficar apagadas, a menos que o amor brilhe e lampeje nelas. A fé não é verdadeira, a menos que atue pelo amor. As águas do arrependimento não são puras, a menos que fluam das fontes do amor. O amor é o incenso que torna todos os nossos serviços agradáveis e aceitáveis a Deus.

(3) Acaso é desarrazoado o que Deus requer de nós? Não é outra coisa, senão o nosso amor. Se Ele pedisse nossas propriedades, ou o fruto de nossos corpos, poderíamos negar-Lhe? Mas Ele pede apenas o nosso amor: essa é a única flor que Ele há de colher. Acaso é esse um pedido difícil? Houve em alguma época uma dívida tão facilmente pagável quanto essa? Nós de maneira alguma empobrecemos ao pagá-la. O amor não é um fardo. Acaso é algum trabalho para a noiva amar o seu esposo? O amor é um deleite.

(4) Deus é o mais adequado e perfeito objeto de nosso amor. Todas as excelências que se mostram dispersas nas criaturas estão unidas Nele. Ele é sabedoria, beleza, amor, sim, a própria essência da bondade. Não há nada em Deus que possa causar repugnação; a criatura facilmente provoca náusea, ao invés de satisfação, mas em há infinitas e renovadas belezas cintilando em Deus. Quanto mais nós desfrutamos de Deus, mais somos arrebatados pelo deleite.

Não há nada em Deus que amorteça as nossas afeições ou apague o nosso amor; nenhuma debilidade, nenhuma deformidade que possa enfraquecer ou esfriar o amor. Em Deus há tal excelência capaz não apenas de pedir, mas de ordenar o nosso amor. Se houvesse ainda mais anjos no céu do que há, e todos aqueles gloriosos serafins tivessem uma imensa chama de amor queimando em seus peitos por toda a eternidade, ainda assim eles não seriam capazes de amar a Deus em equivalência àquela perfeição infinita e bondade transcendente que há Nele. Certamente, então, aqui há o bastante para nos induzir a amarmos a Deus – nós não poderíamos despender o nosso amor em um objeto mais excelente.

(5) O amor facilita a religião. Ele lubrifica as engrenagens das afeições, tornando-as mais vigorosas e alegres no serviço de Deus. O amor lança fora o tédio do dever. Jacó considerou como nada os sete anos que trabalhou, em razão do amor que tinha por Raquel. O amor transforma o dever em prazer. Por que os anjos são tão dispostos e velozes no serviço a Deus? É porque eles O amam. O amor jamais se cansa. Aquele que ama a Deus jamais se cansa de dizê-lo. Aquele que ama a Deus jamais se cansa de servi-Lo.


(6) Deus deseja o nosso amor. Nós perdemos a nossa beleza e manchamos a nossa linhagem, mas, ainda assim, o Rei dos céus deseja casar-se conosco. O que há em nosso amor para que Deus houvesse de buscá-lo? Por que Deus tem prazer no nosso amor? Ele não precisa de nosso amor, Ele é infinitamente feliz em Si mesmo. Se nós negamos a Ele o nosso amor, Ele tem criaturas mais sublimes que rendem o alegre tributo de louvor a Ele. Deus não precisa do nosso amor, mas, ainda assim, Ele o busca.

(7) Deus merece o nosso amor, pois como Ele nos ama! Nossas afeições deveriam ser incendiadas no fogo do amor de Deus. Que milagre de amor é este, que Deus houvesse de nos amar quando não havia nada de amável em nós! “Passando eu por junto de ti, vi-te a revolver-te no teu sangue e te disse: Ainda que estás no teu sangue, vive; sim, ainda que estás no teu sangue, vive” (Ez 16.6). Quando nós tínhamos aversão a Deus, Ele tinha amor por nós. Havia em nós motivos para provocar fúria, mas não para despertar o amor. Que amor acima de todo entendimento é este, que entregou Cristo a nós! Que levou Cristo a morrer pelos pecadores! Deus deixou todos os anjos no céu admirados diante desse amor. Agostinho diz: “A cruz é um púlpito, e a lição que nela Cristo pregou foi o amor”.

Oh, o vivo amor do Salvador que morreu! Penso que posso ver Cristo, sobre a cruz, sangrando por toda parte! Penso que posso ouvi-Lo dizer a nós: “Aproximem as mãos de vocês. Ponham-nas sobre o Meu lado. Sintam o meu coração sangrar. Vejam se eu de fato não amo vocês. E acaso não concederão vocês o seu amor a mim? Amarão vocês o mundo mais do que a mim? Acaso o mundo aplacou a ira de Deus por vocês? Não fui eu quem fez tudo isso? E acaso vocês não me amarão?” É natural amar aqueles que nos amam. Havendo Cristo escrito para nós uma história de amor, e isso com Seu próprio sangue, que nós labutemos para também escrever-lhe uma semelhante história e para imitá-Lo em Seu amor.

(8) O amor a Deus é o melhor amor-próprio. É amor-próprio ter a nossa alma salva; ao amarmos a Deus, nós desenvolvemos a nossa própria salvação. “Aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele” (1Jo 4.16). E esse homem, o qual ama a Deus, tem a certeza de que permanecerá com Deus nos céus, pois Deus permanece em seu coração. Portanto, amar a Deus é a mais verdadeira manifestação de amor-próprio; aquele que não ama a Deus não ama a si mesmo.

(9) O amor a Deus evidencia a sinceridade. “Os retos te amam” (Ct 1.4, ARC). Muitos dos filhos de Deus temem ser hipócritas. Você ama a Deus? Quando Pedro estava abatido pelo senso do seu pecado, ele pensava ser indigno de que Cristo novamente o notasse, ou de que Cristo voltasse a empregá-lo na obra do seu apostolado. Agora, veja como Cristo age para confortá-lo. “Simão, filho de João, tu me amas?” (Jo 21.16). É como se Cristo lhe houvesse dito: “Embora você tenha me negado por medo, se você for capaz de dizer do seu coração que Me ama, então você é sincero e reto”. Amar a Deus é um melhor sinal de sinceridade do que ter medo Dele. Os israelitas tinham medo da justiça de Deus. “Quando os fazia morrer, então, o buscavam; arrependidos, procuravam a Deus” (Sl 78.34). Mas o que tudo aquilo significava? “Todavia, lisonjeavam-no com a boca e com a língua lhe mentiam. Porque o seu coração não era reto para com ele, nem foram fiéis ao seu concerto” (v. 36-37, ARC). Esse tipo de arrependimento não é melhor do que bajulação, a qual é proferida apenas por causa do medo dos juízos de Deus, e não é acompanhada por sequer um pouco de amor. O amor a Deus é a evidência de que Deus possui o nosso coração; e, se o nosso coração for Dele, Ele governará todo o resto.

(10) Pelo nosso amor a Deus, nós podemos concluir o amor de Deus por nós. “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1Jo 4.19). Oh, diz a alma, se eu tivesse certeza de que Deus me ama, então eu poderia me alegrar! Ora, você ama a Deus? Então você pode ter certeza do amor de Deus por você. Pense numa criança brincando de fazer fogo com uma lupa; se ela consegue fazer fogo, é porque primeiro o sol brilhou sobre a lupa, do contrário ela não queimaria. Assim, se nossos corações queimam de amor por Deus, é porque primeiro o amor de Deus brilhou sobre nós, do contrário nós jamais poderíamos queimar de amor. O nosso amor não é outra coisa, senão o reflexo do amor de Deus.


(11) Se você não amar a Deus, você amará alguma outra coisa, seja o mundo ou o pecado; e acaso são essas coisas dignas do seu amor? Não é melhor amar a Deus do que amá-las? É melhor amar a Deus do que o mundo, como demonstraremos nos pormenores que seguem.
Se você puser o seu amor em coisas mundanas, elas não o satisfarão. Você pode satisfazer a sua alma com a terra tanto quanto pode alimentar o seu corpo com ar. “Na plenitude da sua abastança, ver-se-á angustiado” (Jó 20.22). A fartura tem a sua penúria. Se o globo do mundo fosse seu, ele não preencheria a sua alma. E acaso você porá o seu amor em algo que jamais poderá dar-lhe contentamento? Não é melhor amar a Deus? Ele lhe dará aquilo que há de satisfazer. “Quando acordar, eu me satisfarei com a tua semelhança” (Salmo 17.15). Quando eu acordar do sono da morte, e tiver alguns dos raios e feixes da glória de Deus postos sobre mim, então eu serei satisfeito com a Sua semelhança.

Se você amar coisas mundanas, elas não podem remover as preocupações da mente. Se há um espinho na consciência, o mundo inteiro não é capaz de arrancá-lo. Estando o rei Saul perplexo em sua mente, todas as jóias de sua coroa não podiam confortá-lo (1Sm 28.15). Mas, se você ama a Deus, Ele pode lhe dar paz quando nada mais pode fazê-lo; Ele é quem “torna a densa treva em manhã” (Am 5.8). Ele pode aplicar o sangue de Cristo para revigorar a sua alma; Ele pode sussurrar o Seu amor pelo Espírito e, com um sorriso, dissipar todos os seus medos e inquietações.
Se você amar o mundo, você ama aquilo que pode mantê-lo fora dos céus. Contentamentos mundanos podem ser comparados às carruagens de um exército: enquanto os soldados ficam alimentando a si mesmos nas carruagens, eles perdem a batalha. “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!” (Mc 10.23). Para muitos, a prosperidade é como a vela para o barco, a qual pode facilmente fazê-lo virar; sendo assim, ao amar o mundo, você ama aquilo que o põe em perigo. Mas, se você amar a Deus, não há medo de perder os céus. Ele será uma Rocha para protegê-lo, mas não para feri-lo. Se nós O amamos, nós iremos desfrutá-Lo.
Você pode amar coisas mundanas, mas elas não podem correspondê-lo em amor. Você ama o ouro e a prata, mas o seu ouro não pode correspondê-lo em amor. Você ama um quadro, mas o quadro não pode correspondê-lo em amor. Você doa o seu amor à criatura, mas não recebe nenhum amor de volta. Mas, se você amar a Deus, Ele o corresponderá em amor. “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.”  (Jo 14.23). Deus não será mesquinho em amor por nós: pela nossa gota de amor, haveremos de receber um oceano.

Quando você ama o mundo, ama aquilo que é pior do que você mesmo. A alma, como diz Damasceno, é uma faísca do brilho celestial; ela traz em si uma idéia e semelhança de Deus. Ao amar o mundo, você ama aquilo que é infinitamente inferior à dignidade da sua alma. Acaso alguém gastará dinheiro em sacos de estopa? Quando você gasta o seu amor com o mundo, você lança uma pérola aos porcos; você ama aquilo que é inferior a você mesmo. Como Cristo fala, em outro sentido, acerca das aves do céu, “Não tendes vós muito mais valor do que elas?” (Mt 6.26, ARC), assim também eu digo acerca das coisas mundanas: Você não tem muito mais valor do que elas? Você ama uma casa agradável, um quadro bonito; você não vale muito mais do que essas coisas? Mas, se você ama a Deus, você põe o seu amor no mais nobre e sublime objeto: você ama aquilo que é melhor do que você mesmo. Deus é melhor do que a alma, melhor do que os anjos, melhor do que os céus.

Você pode amar o mundo, e receber ódio em paga do seu amor. “Porque não sois do mundo, [...] por isso é que o mundo vos aborrece” (Jo 15.19). Acaso não se aborreceria o homem que gastasse dinheiro para comprar um campo que, ao invés de produzir trigo ou uvas, não daria outra coisa senão urtigas? Assim é com todas as coisas que estão debaixo do sol: nós as amamos, mas elas demonstram ser como urtigas que só nos causam ardor. Nós não encontramos outra coisa, senão desapontamento. “Saia do espinheiro fogo que consuma os cedros do Líbano” (Jz 9.15). Enquanto nós amamos a criatura, sai fogo desse espinheiro para nos consumir; mas, se nós amamos a Deus, Ele não pagará o ódio pelo amor. “Eu amo os que me amam” (Pv 8.17). Deus pode disciplinar aquele que O ama, mas não pode odiá-lo. Cada crente é membro de Cristo e, assim como Deus não pode odiar a Cristo, tampouco pode odiar um crente.

Você pode amar excessivamente a criatura. Você pode amar o vinho demais, e a prata demais; mas você não pode amar Deus demais. Se fosse possível exceder-se em amor por Deus, tal excesso seria uma virtude; mas é nosso pecado o fato de não podermos amar a Deus o suficiente. “Quão fraco é o teu coração, diz o SENHOR Deus” (Ez 16.30). Assim também podemos dizer: “Quão fraco é o nosso amor por Deus!” É como a aguardente da última retirada do alambique, a qual possui menos álcool do que as demais. Se nós pudéssemos amar a Deus muito mais do que amamos, ainda assim não o faríamos proporcionalmente à Sua dignidade; assim, não há perigo de excesso em nosso amor a Deus.
Você pode amar coisas mundanas, e elas morrem e o deixam. As riquezas tomam asas, os relacionamentos escoam e desaparecem. Aqui, não há nada permanente: a criatura tem um pouco de mel em sua boca, mas ele tem asas e logo voa para longe. Mas, se você amar a Deus, Ele é “a minha porção para sempre” (Sl 73.26). Assim como Ele é chamado um Sol em relação ao conforto, também é chamado uma Rocha para a eternidade; Ele permanece para sempre. Assim, nós vemos que é melhor amar a Deus do que o mundo.

Se é melhor amar a Deus do que o mundo, certamente também é melhor amar a Deus do que o pecado. O que há no pecado, para que alguém venha a amá-lo? O pecado é uma dívida. “Perdoa-nos as nossas dívidas” (Mt 6.12). É uma dívida que nos arrasta para debaixo da ira de Deus; por que nós amaríamos o pecado? Acaso algum homem ama ter dívidas? O pecado é uma doença. “Toda a cabeça está doente” (Is 1.5). E acaso você amará o pecado? Pode algum homem afagar uma enfermidade? Pode ele amar as suas chagas purulentas? O pecado é uma contaminação. O apóstolo o chama de “impureza” (Tg 1.21). Ele é comparado à lepra e ao veneno das áspides. O coração de Deus se levanta contra pecadores. “E destruí os três pastores num mês, porque se angustiou deles a minha alma” (Zc 11.8, ARC). O pecado é um monstro deformado: a luxúria torna um homem animalesco, a malícia o torna diabólico. O que há no pecado para ser amado? Havemos de amar a deformidade? O pecado é um inimigo. É comparado a uma “serpente” (Pv 23.32). Ele possui quatro aguilhões: vergonha, culpa, horror e morte. Pode um homem amar aquilo que busca a sua morte? Certamente, então, é melhor amar a Deus do que o pecado. Deus irá salvá-lo, o pecado irá condená-lo; acaso não se tornou louco o homem que ama a condenação?


(12) O relacionamento estabelecido entre nós e Deus demanda amor. Há íntima afinidade. “Porque o teu Criador é o teu marido” (Is 54.5). E acaso uma esposa não amará o seu marido? Ele é cheio de ternura: Sua esposa é para Ele como a menina de Seus olhos. Ele se regozija nela, como o noivo se alegra na noiva (Is 62.5). Ele ama o crente, assim como ama a Cristo (Jo 17.26). O mesmo amor em sua qualidade, embora não em igual medida. Por essa razão nós devemos amar a Deus, ou daremos ocasião para suspeitarmos de que ainda não estamos de fato unidos a Ele.

(13) O amor é a graça mais duradoura. Ela permanecerá conosco quando outras graças disserem adeus. Nos céus, nós não precisaremos de arrependimento, pois não teremos pecado. Nos céus, nós não precisaremos de paciência, pois não haverá aflição. Nos céus, nós não precisaremos de fé, pois a fé olha para as coisas que não se vêem (Hb 11.1). Porém, então, nós veremos a Deus face a face e, onde há visão, não há necessidade de fé. Todavia, quando as outras graças forem obsoletas, o amor continua; e, nesse sentido, o apóstolo diz que o amor é maior do que a fé, pois é mais duradouro. “O amor jamais acaba” (1Co 13.8). A fé é a bengala com a qual nós andamos nesta vida. “[Nós] andamos por fé” (2Co 5.7). Mas nós haveremos de deixar essa bengala na porta dos céus, e apenas o amor entrará. Assim, o amor prevalece sobre todas as outras graças. O amor é a graça de vida mais longa, é um botão de flor da eternidade. Como nós deveríamos nos esforçar para ser excelentes nessa graça, a qual sozinha há de estar conosco nos céus, e há de nos acompanhar na ceia das bodas do Cordeiro!

(14) O amor a Deus jamais deixará o pecado brotar no coração. Algumas espécies de plantas não brotam quando crescem juntas:o amor a Deus faz murchar o pecado. Embora o velho homem ainda viva, ele é um homem doente, fraco e quase sem fôlego. A flor do amor mata a erva daninha do pecado e, embora o pecado não morra completamente, ele morre diariamente. Como nós deveríamos trabalhar por essa graça que é o único corrosivo capaz de destruir o pecado!
(15) O amor a Deus é um excelente meio para o crescimento da graça. “Antes, crescei na graça” (2Pe 3.18). O crescimento na graça é muito prazeroso para Deus. Cristo aceita a graça que é genuína, mas elogia a graça que aumenta; e o que pode mais promover e aumentar a graça do que o amor a Deus? O amor é como a água que rega a raiz, fazendo a árvore crescer. Portanto, o apóstolo usa esta expressão ao orar: “Ora, o Senhor conduza o vosso coração ao amor de Deus” (2Ts 3.5). Ele sabia que essa graça de amor alimentaria e nutriria todas as graças.

(16) O maior de todos os benefícios caberá a nós, se amarmos a Deus. “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1Co 2.9). O olho já teve raras visões, o ouvido já ouviu doce música; mas os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem pode o coração do homem conceber o que Deus tem preparado para aqueles que O amam! Tais gloriosas recompensas estão de tal modo guardadas que, como diz Agostinho, nem a própria fé é apta a concebê-las. Deus tem prometido uma coroa da vida para aqueles que o amam (Tg 1.12). Assim Deus irá nos atrair a Si por meio dessas recompensas.

(17) O amor a Deus é uma armadura poderosa contra o erro. Pela falta de corações cheios de amor, os homens têm as cabeças cheias de erro; opiniões profanas existem pela falta de afeições santas. Por que os homens são entregues a enganos terríveis? É porque eles “porque não acolheram o amor da verdade” (2Ts 2.10). Quanto mais nós amamos a Deus, mais odiamos aquelas opiniões heterodoxas que nos arrancariam de Deus para a libertinagem.

(18) Se nós amamos a Deus, nós temos todos os ventos soprando em nosso favor, todas as coisas no mundo hão de conspirar para o nosso bem. Nós não sabemos as ardentes provações com as quais podemos nos deparar, mas para aqueles que amam a Deus todas as coisas hão de cooperar para o bem. Aquelas coisas que operam contra eles hão de cooperar em favor deles; a sua cruz preparará o caminho para uma coroa; todo vendo há de guiá-los ao porto celestial.

(19) A falta de amor a Deus é o terreno da apostasia. A semente da parábola que não tinha raiz secou-se. Aquele que não tem o amor a Deus enraizado em seu coração irá secar no período da tentação. Aquele que ama a Deus se apegará a Ele, assim como Rute a Noemi. “ aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu” (Rt 1.16-17). Mas aquele que carece de amor a Deus fará como Orfa à sua sogra; ela a beijou, disse adeus e se foi. Aquele soldado que não tem amor ao seu comandante irá deixá-lo na primeira oportunidade, correndo para o lado do inimigo. Aquele que não tem amor a Deus em seu coração, você pode contá-lo como um apóstata.

(20) O amor é a única coisa que nós podemos pagar a Deus com a mesma moeda. Se Deus se irar conosco, não devemos nos irar de volta; se Ele nos repreende, não devemos repreendê-Lo de volta; mas, se Deus nos ama, nós devemos amá-Lo de volta. Não há nada que nós possamos dar a Deus de volta, exceto o amor. Nós não devemos dar a Ele palavra por palavra, mas nós devemos dar-Lhe amor por amor.

Assim, nós vimos vinte motivos para despertar e inflamar o nosso amor a Deus.

Pergunta. O que nós devemos fazer para amar a Deus?

Resposta. Estudar Deus. Se nós O estudássemos mais, nós O amaríamos mais. Precisamos obter uma visão das Suas superlativas excelências, Sua santidade, Sua bondade incompreensível. Os anjos conhecem a Deus melhor do que nós, e claramente contemplam o esplendor da Sua majestade; por essa razão é que eles são tão profundamente apaixonados por Ele.
Trabalhar por um interesse em Deus. “Ó Deus, tu és o meu Deus” (Sl 63.1, ARC). O pronome “meu” é um doce ímã para o amor; o homem ama aquilo que é seu. Quanto mais nós cremos, mais nós amamos; a fé é a raiz, e o amor é a flor que cresce sobre ela. “A fé que atua pelo amor” (Gl 5.6).

Faça desta a sua mais fervorosa súplica a Deus: que Ele lhe dê um coração para amá-Lo. Essa é uma súplica aceitável, certamente Deus não a rejeitará. Quando o rei Salomão pediu sabedoria a Deus - “Dá, pois, ao teu servo coração compreensivo” (1Rs 3.9), “estas palavras agradaram ao Senhor” (v. 10). Sendo assim, quando você clama a Deus, “Senhor, dá-me um coração para Te amar. É a minha tristeza que eu não possa Te amar mais. Oh, manda esse fogo do céu sobre o altar do meu coração!”, certamente essa oração agrada ao Senhor, e Ele aspergirá sobre você do Seu Espírito, cujo azeite há de fazer brilhar ardentemente a lâmpada do seu amor.

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Fonte: Thomas Watson. Original: A Divine Cordial By Thomas Watson
Tradução: voltemosaoevangelho.com
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