sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Texto de Anthony A. Hoekema (1913/1988), teólogo cristão, explica o conceito escatológico que pouca gente entende. Ele atuou como professor de Teologia Sistemática no Calvin Theological Seminary por vinte e um anos


O termo amilenismo não é muito feliz. Ele sugere que os amilenistas ou não crêem em nenhum milênio ou, simplesmente, ignoram os primeiros seis versos de Apocalipse 20, que falam de um reinado milenar. Nenhuma destas duas declarações é correta. Embora seja verdadeiro que os amilenistas não crêem em um reinado terreno literal de mil anos, que se seguiria à volta de Cristo, o termo amilenismo não é uma descrição acurada de sua posição. Jay E. Adams, em seu livro The Time is at Hand [1] (O Tempo Está Próximo), sugeriu que o termo amilenismo seja substituído pela expressão milenismo realizado. Este último termo, sem dúvida, descreve mais acuradamente a posição “amilenista” do que o termo usual, uma vez que os “amilenistas” crêem que o milênio de Apocalipse 20 não é exclusivamente futuro, mas está agora em processo de realização. Entretanto, a expressão milenismo realizado é um tanto desajeitada, substituindo um simples prefixo por uma palavra de cinco sílabas. Portanto, apesar das desvantagens e limitações da palavra, eu continuarei a usar o termo mais breve e mais comum, amilenismo. [2]



Os amilenistas interpretam o milênio mencionado em Apocalipse 20.4-6 como descrevendo o reinado presente das almas dos crentes mortos e com Cristo no céu. Eles entendem o aprisionamento de Satanás, mencionado nos primeiros três versos deste capítulo, como estando efetivado durante todo o período entre a primeira e a Segunda Vinda de Cristo, embora findando pouco antes da volta de Cristo. Eles ensinam que Cristo voltará após este reinado milenar celestial.

Os amilenistas também sustentam que o Reino de Deus está presente agora no mundo, pois o Cristo vitorioso está governando seu povo através de sua Palavra e seu Espírito, embora eles também aguardem um Reino futuro, glorioso e perfeito na nova terra na vida por vir. Apesar do fato de Cristo ter conquistado a vitória decisiva sobre o pecado e o mal, o Reino do mal continuará a existir lado a lado com o Reino de Deus até o fim do mundo. Embora já estejamos desfrutando de várias bênçãos escatológicas, no tempo presente (Escatologia inaugurada), nós aguardamos uma série culminante de eventos futuros associados com a Segunda Vinda de Cristo, que instaurará o estado final (Escatologia futura). Os assim chamados “sinais dos tempos” têm estado presentes no mundo desde o tempo da primeira vinda de Cristo, mas eles atingirão uma manifestação mais intensa e final imediatamente antes de sua Segunda Vinda. O amilenista, portanto, espera que, antes da volta de Cristo, sejam completadas a pregação do Evangelho a todas as nações e a conversão da plenitude de Israel. Ele igualmente aguarda uma forma intensificada de tribulação e da apostasia, bem como a manifestação de um anticristo pessoal, antes da Segunda Vinda.
O amilenista compreende a Segunda Vinda de Cristo como um evento único, não um evento que envolva duas partes. Na hora da volta de Cristo haverá uma ressurreição geral, tanto de crentes como de incrédulos. Após a ressurreição, os crentes que ainda estiverem vivos serão transformados e glorificados. Estes dois grupos, crentes ressurrectos e crentes transformados, são então elevados para as nuvens para encontrar com o Senhor nos ares. Após este “arrebatamento” de todos os crentes, Cristo completará sua descida à terra e conduzirá o juízo final. Após o juízo, os incrédulos serão entregues à punição eterna, ao passo que os crentes desfrutarão para sempre das bênçãos dos novos céus e da nova terra.  [3]

[1] The Time is at Hand (O tempo está Próximo) Philadelphia: Presbyterian and Reformed, 1970, pp. 7-11.
[2] Clouse, op.cit., pp.155.156.
[3] A presente obra reflete a posição amilenista. No capítulo 16, adiante, a interpretação amilenista do milênio, com base em Apocalipse 20, será mais elaborada. Uma breve história do amilenismo, bem como uma lista de obras amilenistas, pode ser encontrada em Clouse, op.cit., pp 9-13, 219, 220.

2 comentários:

Antonio Carlos Gonçalves Affonso disse...

Graça e paz Mikaella. Estou tentando colocar em dia minha leitura. Por isso só agora li este artigo. Muito bom postar esclarecimentos como estes. Mas permita-me esclarecer algo.
Na realidade desconheço que exista algum amilenista que não seja pós-tribulacionista. Esta visão já é inerente ao amilenismo. O que ocorre é que os pré-milenistas pós-tribulacionistas é que eram mais raros. De meados do século XX até seu final, o amilenismo era linha predominante entre os batistas e presbiterianos do Brasil, e é até hoje predomina entre os chamados reformados. Hoje o chamado pré-milenismo histórico (pós-tribulacionismo) voltou a criar forças tanto no Brasil como fora dele. O meio conservador opta, na maioria das vezes por uma destas duas linhas. Os meios pentecostais optam, em sua totalidade, pelo pré-tribulacionismo baseados no dispensacionalismo.
Esta é a informação que tenho de algumas pesquisas que fiz quando escrevi minha monografia que foi sobre o assunto. Pode ser que algum dado novo exista que eu desconheça. Caso você tenha me informe.
Cordialmente em Cristo.

Mikaella disse...

Ei, pastor. Como vai? Graça e Paz. Os livros que li sobre o assunto afirmam que os amilenistas acreditam simplesmente na volta de Jesus. Muitos não creem na vinda de um anticristo nem num período específico de tribulação. Segundo eles, a grande tribulação não é diferente da tribulação em que já vivemos. Então, existem alguns teóricos flex (rs), que unem as duas ideias. Eu sinceramente estou a cada dia mais amilenista, mas acreditando num período tribulacional diferente do atual.

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