sexta-feira, 27 de julho de 2012

Texto do pastor e missionário Leonardo Gonçalves foi escrito em 2009, mas é muito atual por mostrar um cristianismo perdido no meio de crenças pagãs


Assistir a um vídeo onde o vocalista do U2 aparece engatinhando, imitando algum mamífero felino, talvez um leão… Se o leitor comparar este vídeo com aquele da pastora de BH, vai perceber que os movimentos da Ana e do Bono são extremamente semelhantes. As coincidências são tantas que, penso que das duas, uma: Ou Bono Vox estava cheio da unção realizando um ato profético, ou a Ana plagiou o U2 e pôs a culpa em Deus. Será que Ana e Bono estão cheios do mesmo espírito? Antes que alguém venha em minha defesa, querendo poupar-me de tão grande pecado, permita-me dizer que não estou blasfemando: estou apenas duvidando, questionando, uma vez que a bíblia diz que nem todo espírito é o Espírito, e nem todo mover é de Deus (1Jo 4.1).

Fico aqui pensando no que que os arrebatados fãs do Diante do Trono diriam do vídeo do Bono, caso eles o tivessem assistido antes da engatinhada (na fé) da pastora da Lagoinha. Com certeza, muita gente ia dizer que ele estava endemoninhado! Ora, uma pessoa em seu estado normal de consciência não faz estas coisas, a menos – é claro – que tenha intenção de aparecer a todo custo, o que demonstraria carência afetiva, além de um profundo complexo de inferioridade. Coagido por este complexo, o cantor do U2 tenta chamar a atenção para si, atraindo os holofotes numa busca implacável pelo reconhecimento dos homens. É… Freud explica (risos!). Porém, quando se trata da Ana, o negócio muda de figura: De coisa de maluco e possessão demoníaca, a engatinhada felina se transforma em manifestação do Todo-Poderoso, coisa de gente profeta e espiritual.

O mesmo acontece com os fenômenos religiosos pseudo-pentecostais. Se alguém começa a girar igual uma piorra numa roda de umbanda, dizemos que está possuído por demônios, mas quando o mesmo fenômeno ocorre em uma igreja pentecostal, dizemos que é o poder de Deus! Se aparecer um macumbeiro assumido dizendo que vai fazer um despacho, todo mundo vai dizer que é coisa do demônio, mas quando o reverendo João Batista diz que vai fazer o maior despacho da história, a gente tem que engolir, afinal, ele é um pastor… deve ser um despacho gospel! Será que ao receber a Cristo, abrimos mão do nosso cérebro? Será que já não sabemos pensar logicamente? Causa e efeito, princípio da uniformidade, fenomenologia da religião, essas coisas não são contrárias a fé. Aliás, podem até fortalecê-la. Nós fomos feitos para pensar!

Vejo tudo isso e pergunto a mim mesmo: “O que será que impede os cristãos de serem mais críticos em seus posicionamentos, mais bereanos em relação à bíblia, menos cabalísticos e mais espirituais?” Faz mais de um mês que o amigo Eli Sanches me enviou o vídeo de uma vigília supostamente pentecostal. Meu irmão, eu fiquei absolutamente chocado! Uma penca de gente que, dizendo-se crentes, se vestiam todos de branco no maior estilo “pai-de-santo”, e iam para a igreja na sexta-feira pra ficar rodando ao som do pandeiro. Tal era a balbúrdia que não dava para discernir mais se aquilo era igreja ou terreiro de macumba. O pior é que, segundo eles, o “Vigilhão de Quintino” tinha o propósito de combater a macumbaria. É isso mesmo: macumba contra macumba-gospel, pra ver quem pode mais!

Penso que já é tempo que se levante uma geração que seja capaz de repensar esse cristianismo pagão, e que, através do discernimento, possa resgatar a essência perdida da nossa fé. Eu oro para que essa geração se levante. Serão jovens que se atreverão a pensar fora do caixote, que levarão o cristianismo para além da arena denominacional, pois o campo é o mundo. Uma geração de crentes sem-crentices, sem aquela mensagem evangelicista distorcida e estereotipada, onde Deus ora é um vassalo que atende todos os caprichos dos homens, ora é um algoz, com chicote na mão, pronto para castigar com o fogo eterno todos aqueles que não se adequam às imposições meramente humanas de tal denominação. Serão jovens que pregarão um evangelho sem barganhas, sem sensacionalismo, sem farisaísmo, mas também sem libertinagem. Cristianismo puro e simples. O evangelho, nada mais.

Eu sei que a tendência é piorar. A presente apostasia é profética, mas é justamente essa apostasia que vai evidenciar quem são os verdadeiros servos de Deus (1Jo 2.9). E eu, meu camarada, quero fazer parte dessa geração. Me recuso a bailar conforme a música, e não quero bater palma pra maluco dançar. Entre as excentricidades das estrelas, e a bíblia sagrada, prefiro a bíblia. Sei que estou longe de ser perfeito, mas nem por isso vou me acomodar, nem vou virar marionete nas mãos dessa gente com aparência de piedade, mas que pisa na graça e negocia os pressupostos inegociáveis do cristianismo, vendendo a fé, a grosso e a retalho, e esculhambando com a noiva do Cordeiro. Não vou mais disfarçar minha covardia com alegações de pacifismo e tolerância. Paz sem voz não é paz, é medo! Não podemos aceitar o inaceitável, e nem tolerar o intolerável. Este é um preço muito alto. Quero a paz com todos, se possível, mas desejo a verdade a qualquer preço.
































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